Autor: IVALDO BATISTA
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Peço a Deus que me dê inspiração
Pra lembrar em versos que faz 100 anos
Que nasceu um desses pernambucanos
Um dos filhos ilustres do sertão
Que representou bem a região
O Nordeste se sente envaidecido
Por esse talento reconhecido
E o legado que ele nos deixou.
O que Doutor Zé Dantas receitou
Através de Gonzaga tenho ouvido.
Natural de Carnaíba das Flores
Situada no Alto Pajeú
Solo onde reina o Mandacaru
Deu-nos o maior dos compositores
Gonzagão foi servido de valores
Os doutores escalados no Baião
Executaram bem essa missão
Mas ZÉ DANTAS foi quem se destacou.
Tudo que doutor Zé Dantas criou
Gonzagão cantou pra nossa nação.
Esse gênio nasceu em Fevereiro
Que é mês de carnaval e confete
Seu registro, diz dia Vinte e Sete
Sou tiete desse nobre guerreiro
Pernambuco, Estado Brasileiro
Tem orgulho de vê esse menino
Que nasceu e cresceu tão nordestino
Em Mil Novecentos e Vinte e um.
Com um talento raro incomum
Só podia ser obra do divino.
É Seu José de Souza Dantas Filho
Nome do cidadão carnaubano
Como pernambucano me ufano
De vermos nessa estrela tanto brilho
Com vocês esses versos eu compartilho
A fim de resgatar sua memória
Ele é referência e fez História
Um exemplo para toda nação.
Revelado por nosso Gonzagão
Um e outro já partiram pra glória.
Falando sobre os seus genitores
Seu pai foi importante fazendeiro
JOSÉ DE SOUZA DANTAS, homem ordeiro
Ex prefeito da cidade de Flores
Comerciante cheio de valores
Da burguesia rural nordestina
Que queria o filho na medicina
Sua mãe Josefina Alves Siqueira.
Dona “Santu” Uma mulher guerreira
Esses pais decidiram a sua sina.
Zé Dantas Filho deixou Carnaíba
Foi morar lá perto do litoral
Mudou pra estudar na capital
Desce lá de riba feito um escriba
Nessa arte não há quem o proíba
A vontade da família foi feita
Veio estudar pra passar receita
Chegou ao Recife com Nove anos.
Estudou mas traçou também seus planos
Nossa gente se deu por satisfeita.
Dos colégios que ele freqüentou
Em Recife tem Nóbrega e Marista
Também o Americano Batista
Onde José Dantas Filho estudou
Com dezessete anos ele criou
Compôs Xote, Toadas e Baião
Era grande a sua produção
Do modo nordestino e brejeiro.
Crônicas do Folclore brasileiro
Tá presente em sua composição.
Seus trabalhos eram sempre mostrados
Pelo colégio em uma revista
Era no Americano Batista
Onde seus textos eram publicados
Os costumes nordestinos narrados
Ali treinava um compositor
Com toda liberdade pra compor
Sem jamais esquecer sua missão.
Ele só veio de lá do sertão
Pra cidade estudar e ser doutor.
Seu Zé Dantas nasceu pra ser artista
Revelado ainda de menor
Afirmou Armando Souto Maior
Esse excepcional folclorista
Que foi seu colega lá no Marista
Testemunhou Zé Dantas batucando
Uma caixa de fósforos usando
E compondo ali de improviso.
Vinha dos corredores esse aviso
Um compositor está se formando.
Essa etapa da vida então termina
Ele corre atrás do ideal
Pari passu a vida musical
Ingressou no curso de Medicina
Como sua família determina
O pai dele jamais quis aceitar
Vê o filho na música atuar
Mas um dia mudou de opinião.
Depois que conversou com Gonzagão
Eu conheço quem pode confirmar.
Precisava estudar e ser doutor
Seguiu firme o curso de Medicina
O destino quem sabe vaticina
Determina o improvisador
José Dantas seguiu compositor
Ali no meio Universitário
A despeito do pai que era agrário
Nessa área ele foi se envolvendo.
O doutor nessa arte foi crescendo
E a vida lhe deu outro cenário.
Mil novecentos e quarenta e sete
Fica aqui registrado no cordel
Que Zé Dantas foi vê no grande hotel
O Rei do Baião que era manchete
Recebeu de Zé Dantas e promete
Aproveitar sua composição
Que em breve fará a gravação
Ao gravar, foi um sucesso total
Nasceu a parceria ideal
De Zé Dantas com o Rei do baião.
Forró de MANÉ VITOR e Vem MORENA
Zé Dantas viu suas composições
Agradarem em cheio as multidões
Pra alegria do amor de Helena
Que pra o doutor Zé Dantas acena
As duas canções que foram gravadas
Já estavam por demais aprovadas
Consagrando Zé Dantas o autor.
E o Rei do Baião, grande cantor
Uma das parcerias consagradas.
O curso de Zé Dantas terminou
Em Quarenta e Nove ele saiu
Cursou Medicina e concluiu
Pra o Rio ele logo se mudou
Em Cinqüenta quando por lá chegou
Procurou explorar a sua arte
Do mundo artístico ele é parte
Participou de Shows e gravações
Com Gonzaga e outras produções
Seu Zé Dantas tornou-se estandarte.
Lá no Rio foi fazer residência
No Hospital que é dos Servidores
Era um dos neófitos doutores
Destacou-se por sua inteligência
Logo provando sua competência
Quando teve concurso aproveitou
Preparou-se no teste e passou
E entrou pra o quadro efetivo.
Nesse hospital foi gestor ativo
Nem com isso, seu dom abandonou.
Em Recife lá na Rádio Jornal
Em Cinqüenta, ele pode estrear
E no Rio também pode atuar
No Programa na Radio Nacional
“Na Hora do Baião” foi tão legal
Ouvir muitos causos do contador
De personagens foi imitador
Revelou contos do Nordeste pobre
No programa em um horário nobre
Tava ali o doutor compositor.
Sobre sua esposa eu me lembro
Yolanda Dantas é de Pernambuco
De Recife, chão de Joaquim Nabuco
Esses dois se conheceram, relembro
Foi num dia de sete de setembro
Num feriado em Serra Talhada
Começou com uma simples olhada
Numa Vila chamada Caiçarinha
Com dezessete anos e tão novinha
A professorinha foi conquistada.
Foi assim que Zé Dantas conheceu
Dona Yolanda Dantas, querida
Encontrou o amor de sua vida
Foi assim que tudo aconteceu
Esse encontro no sertão ocorreu
Ele estudante de medicina
Galanteador ganhou a menina
Que era filha de um leiloeiro.
E Zé Dantas filho do fazendeiro
Elegante essa conquista assina.
Iniciou assim a relação
Mas eles não se casaram no ato
Em Mil Novecentos e Cinqüenta e quatro
É que foi selada a união
Oito anos depois o coração
Da mulher que inspirou a letra “I”
Viu seu amor, desse mundo partir
Para o que chamam de vida eterna
Ela ficou sem chão, procurou perna
Mas no mundo precisou prosseguir.
Ela tinha três filhos pra criar
E seguir firme era sua tônica
Criou duas filhas: Sandra e Mônica
E um filho também pra educar
Zé Dantas Neto pra continuar
Tornou se doutor e mora no Rio
Yolanda encarou o desafio
Só a morte é quem lhe submete
Janeiro de Dois Mil e Dezessete
Sua morte não matou o seu brio.
Foram quinze anos de parceria
Mais de Cinqüenta músicas gravadas
Todas elas são marcas registradas
Da junção que o destino fazia
O Brasil inteiro todo curtia
Aplaudia cada nova canção
De Zé Dantas, um mestre do Baião
Gonzagão garimpou nobre parceiro.
Mais um pernambucano e brasileiro
Pra decantar a nossa região.
Vou citar algumas canções aqui
VOLTA DA ASA BRANCA e SABIÁ
ADEUS IRACEMA e MARIÁ
CASAMENTO DE ROSA e LETRA I
O DELEGADO NO COCO ouvi
TREZE DE DEZEMBRO e o TORRADO
VOZES DA SECA e FEIRA DE GADO
CARTÃO DE NATAL e CHEGOU SÃO JOÃO.
ACAUÃ e ABC DO SERTÃO
QUADRILHA é BOM e o MACHUCADO.
PRONDE TU VAI LUI e LENDA DE SÃO JOÃO
DANÇA DA MODA e PEGA PENEIRA
QUANDO O INVERNO CHEGA e RENDEIRA
PERFUME NACIONÁ, PISA PILÃO
O BOM QUE O COCO TEM e TUDO É BAIÃO
TÁ LEGAL e O QUE É QUE TU QUER
RIACHO DO NAVIO e RAQUÉ
PIRIRIM, ADEUS RIO DE JANEIRO.
O CIRCO, O RIACHO DO IMBUZEIRO
NÓS NUM HAVE e MANÉ e ZABÉ.
O CALANGO e SAMARICA PARTEIRA
NOITES BRASILEIRAS e SETEMBRINA
MUIÉ FEIA, NO TERREIRO DA USINA
PAULO AFONSO e PASSO DA RANCHEIRA
SIRI JOGANDO BOLA é de primeira
A DANÇA DA MODA e ALGODÃO
CANGOTE CHERÔSO e FORRÓ DE ENTÃO
CHORA CARRINHO e CINTURA FINA.
CHEGADA DE INVERNO e CORINA
IMBALANÇA e CAFÉ na relação.
MINHA FULÔ, SÃO JOÃO NO ARRAIÁ
LASCANDO O CANO e AI MEU BEM
SÃO JOÃO ANTIGO e XEM NHEM NHEM
VAI TER CASAMENTO, NUM VÔ CHORÁ
MEU PAPAGAIO e NA BEIRA MAR
SANSÃO e DALILA, OLHA A PISADA
AI AMOR e AS QUATRO IMBIGADA
BALANÇA A REDE e CABRA A PESTE.
ADEUS SAUDADE e CABRA DO NORDESTE
FORRÓ DE MANÉ VITOR e FARINHADA.
XOTE DAS MENINAS e CAXAMBU
Teve o BALAIO DE VEREMUNDO
SÓ VALE QUEM TEM é coisa do mundo
BALAIO, FORRÓ EM CARUARU
SÃO JOÃO NA ROÇA e REI BANTU
No XOTE MIUDINHO a gente vai
VEM MORENA é sucesso que não cai
CADÊ O PEBA, AQUELA CASINHA.
FORRÓ DO QUELEMENTE e MARIQUINHA
ALMA DO BRASIL, DERRAMARO O GAI.
José Dantas grande compositor
Pra criar versos era um celeiro
Retratando o Nordeste brasileiro
Como folclorista pesquisador
Da cultura foi um divulgador
Do Nordeste fez toda exposição
Abordando os temas do sertão
Novenas, festas e as farinhadas.
As poesias e brigas relatadas
Casamento e muita confusão.
Zé Dantas viveu o mundo rural
Xico Nóbrega assim me falou
Esse cotidiano transportou
E botou na construção musical
Esse compositor foi triunfal
Mergulhou fundo nessa produção
Dando aula de interpretação
Aos poucos, a medicina que cura.
Foi perdendo espaço para cultura
José Dantas foi show na criação.
Seu Zé Dantas doutor admirado
Destacou-se enquanto humorista
Além do bom humor foi folclorista
Já escutei um causo seu contado
Quem ouviu garante ter gostado
Era fonte de entretenimento
Foi proveitoso esse casamento
O baião ganhou outro pioneiro
Na canção Gonzagão foi um parceiro
Que deu voz a esse grande talento.
Por quarenta e um anos, viveu
O Baião chorou sua despedida
Sua obra eterniza sua vida
Ele vive em tudo que escreveu
Nessa breve vida desenvolveu
Um acervo gigante pra cultura
Contribuiu demais a criatura
Vejam entre os clássicos musicais.
Suas músicas são tradicionais
E cantores fazem nova leitura.
Seu Zé Dantas sofreu um acidente
Em fevereiro de sessenta e um
Não sei se havia remédio algum
Pra tratar o doutor que é paciente
José Dantas ficou muito doente
Por romper um ligamento no pé
Tomou a cortisona e nessa fé
O remédio aliviava as dores.
Os efeitos, pois nem tudo são flores
Comprometeu o fígado de Zé.
Um ano depois Zé Dantas morreu
Em onze de março em sessenta e dois
Muitas homenagens seguem depois
Todas elas, o cabra mereceu
Lembro algumas que ele recebeu
Na Academia é imortal
Ganhou um busto na terra natal
Cada homenagem a Zé foi bela.
É nome de Rua em Casa Amarela
No bairro do Recife a, capital.
Homenageando o compositor
Num compacto do Rei do Baião
Luiz Gonzaga gravou XÔ PAVÃO
PROFECIA, outra composição
Cantou também outra exaltação
De Onildo Almeida do Agreste
E de outro, também cabra da peste
Antônio Barros lá da Paraíba.
Ao nosso mestre lá de Carnaíba
Que deixou chorando todo Nordeste.
As canções de Zé Dantas alcançaram
Um patamar bonito de se vê
Muitos artistas da MPB
Já gravaram e também regravaram
Com diversos arranjos interpretaram
Alguns deles, eu tenho relacionado:
Ivon Cury, Quinteto Violado
Carmélia Alves, Hermeto pascoal.
Gonzaguinha e Wilson Simonal
Ivan Ferraz e Elba têm cantado.
Gonzagão gravou Zé Dantas primeiro
Dominguinhos também teve a vez
Maria Bethânia e Marinês
Marisa Monte e Jackson do Pandeiro
Flávio José e Alcymar Monteiro
Alceu Valença e Gilberto Gil
Geraldo Azevedo e outros mil
Até Chico Buarque que encanta.
E Marina Elali também canta
As canções do avô pelo Brasil.
Encerrando o cordel do doutor
Segundo José Teles: O mais lírico
Com o meu conhecimento empírico
Digo: Foi o maior compositor
Em tão pouco tempo pode compor
Dezenas de letras com qualidade
Revelou sua versatilidade
E sua relação umbilical.
Que ele teve com o mundo rural
Descreveu pra o homem da cidade.