Autor: Ivaldo Batista
Nesse cordel apresento
Um excelente cantor
Compositor de primeira
Irônico e gozador
Ver se você advinha
Seu nome é Gonzaguinha
Um artista de valor.
Ele conseguiu compor
Cada sucesso irado
Entre cantores e o povo
Ele foi admirado
Vou contar a sua história
Uma bela trajetória
Para ficar registrado.
Conforme documentado
Cumpro só o meu intento
O seu nome é LUIZ
GONZAGA DO NASCIMENTO
JÚNIOR lembra que é filho
Tal como o pai teve um brilho
Revelou-se um talento.
Ouvi seu depoimento
A sua vida foi dura
Apesar do sofrimento
Lamento da criatura
Por tudo que ele passou
E tudo que superou
O nome disso é bravura.
Teve excelente postura
Vou contar como se deu
Nos momentos mais difíceis
Uma luz lhe acendeu
Uma sofrida criança
Precisou ter esperança
E Gonzaguinha venceu.
Esse garoto nasceu
Vejam a mão do divino
Enfrentou dificuldades
Desde quando foi menino
Mas Deus o iluminou
Dos perigos lhe poupou
Lhe deu um nobre destino.
Filho de um nordestino
O Luizinho viveu
Lá no morro de São Carlos
Esse menino cresceu
No Rio, com seus problemas
Enfrentando mil dilemas
Superou tudo e venceu.
O Gonzaguinha nasceu
Aos 22 de setembro
No ano quarenta e cinco (1945)
Desse dia eu me lembro
Gonzagão ancho ficava
Na vida dele chegava
Entrava um novo membro.
A você aqui relembro
A sua filiação
A mãe: ODALÉIA GUEDES
E o seu pai: GONZAGÃO
Da relação o destino
Entregou esse menino
Que buscará uma razão.
Cheio de interrogação
Aos dois anos de idade
Morreu a mãe Odaléia
A dor vem com intensidade
Ficou órfão Luizinho
Não entende o bebezinho
A fatal realidade.
Nessa adversidade
Seu pai achou um jeitinho
Entregou o filho a DINA
E XAVIER seu padrinho
O caminho ideal
Na real foi o casal
Que cuidou bem direitinho.
Deram amor e carinho
O menino foi crescendo
Convivendo ali no morro
E as coisas percebendo
A vida estava forjando
Um guerreiro se criando
É assim que compreendo.
Gonzaga Júnior aprendendo
Tendo sua formação
Foi Henrique Xavier
Quem deu iniciação
O baiano brasileiro
No Rio ensinou primeiro
As aulas de violão.
Dando continuação
O garoto aprendeu
No convívio com Pafúncio
Esse mestre que lhe deu
Muita orientação
Aprendeu fazer canção
Daí se desenvolveu.
Dessas fontes ele bebeu
Com os mestres da escola
A Unidos de São Carlos
Esse samba o consola
Gonzaguinha estudou
E ali se preparou
Tornou-se esse “show de bola”
Junto com sua viola
Aos 16 anos vai
Gonzaguinha decidiu
Quis ir morar com seu pai
Gonzagão bem que tentou
Mas Helena não gostou
E dessa casa ele sai.
O coração do pai cai
Do peito do Gonzagão
Não venceu seus argumentos
Para tal situação
Apesar de genitor
Ficou com o seu amor
Foi dura a decisão.
Por não ter outra opção
O garoto aceitou
Ficou num colégio interno
E lá ele estudou
E foi nesse internato
Que teve todo aparato
De fato, que precisou.
Depois logo ingressou
E cursou Economia
No ano sessenta e sete (1967)
E o seu pai bancaria
Gonzagão pai exigiu
De lá formado saiu
Doutor como o pai queria.
A vida dele seguia
E muita chance lhe dava
Na casa de Aluísio
Agora já frequentava
As rodas de violão
Lá nasceu sua paixão
E Gonzaguinha encontrava.
Lá ele contactava
Teve boas amizades
Com Ivan Lins, Cesar Costa
Pessoas de qualidades
Aldir Blanc e outros mais
Dominguinhos foi demais
Daí saiu novidades.
Juntos em atividades
Criaram um movimento
Entre universitários
Profícuo esse momento
Foi fundado ali o MAU
Um movimento no grau
Legal em funcionamento.
A partir desse incremento
O projeto alavancou
Entrando em festivais
De músicas encantou
Cantou e foi finalista
Tenho até uma lista
De festivais que ganhou.
Em Meia oito chegou
A ser também finalista
Andei fazendo consulta
Vou te passar essa pista
Com “POBREZA POR POBREZA”
E o “TREM” foi com certeza
Sucessos desse artista.
Ouvindo sua entrevista
Vi um cantor consciente
Dificuldades vividas
Que enfrentou como gente
Viu um mundo desigual
Fez crítica social
Criticou foi coerente.
Refletiu criticamente
A obra dele é amostra
Que suas dificuldades
Que encarou está posta
Nas letras, as belas canções
E suas preocupações
Refletir é uma proposta.
Parece ser a resposta
A essa vida cruel
Como se houvesse tomado
Dela um amargo fel
Mostrou-se cantor rancor
Depois venceu foi amor
Tornou-se um favo de mel.
A vida é um carrossel
E logo em setenta e três (1973)
A sua carreira sofre
Uma mudança de vez
Quando em Flávio Cavalcante
Cantou e daí por diante
Viu a ponte de um xadrez.
Foi um jurado burguês
Que criticou o artista
Fizeram acusações
Chamaram de terrorista
“COMPORTAMENTO GERAL”
Uma canção genial
De caráter criticista.
Tratado como ativista
No Brasil da ditadura
No dia seguinte foi
Enquadrado na censura
Ele foi advertido
Diversas vezes ouvido
Viram bravura e tortura.
Naquela fase obscura
Que o Brasil conheceu
A procura de seus discos
Ligeiramente cresceu
O povo então procurou
Seu compacto esgotou
Tudo dele se vendeu.
Gonzaguinha “apareceu”
Em um difícil momento
Ele foi levado ao DOPS
Foi dar esclarecimento
Quem sabe se Gonzagão
Naquela situação
Foi quem deu o livramento.
Gonzaguinha mais atento
“Gonzaga Júnior gravou”
Depois em setenta e cinco
Gravou seu “Plano de voo”
No ano setenta e seis (1976)
Eu garanto a vocês
O Gonzaguinha mudou.
Parece que avaliou
Pensou e deu uma guinada
“COMECAR TUDO OUTRA VEZ”
Foi um disco da virada
A canção virou romântica
Cuidados com a semântica
A carreira está mudada.
Suas letras são cantadas
Estrelas interpretavam
Até Maria Betânia
E outros arrebentavam
Em: “EXPLODE CORAÇÃO”
A partir dessa canção
Outros sucessos estouravam.
O Brasil todo gritava
Aplaudiam as canções
Reinou nos anos oitenta
Com belas composições
Gonzaguinha consagrado
Era o mais requisitado
Fez diversas gravações.
Era um dos campeões
Gonzaga Júnior é tesouro
O moleque do São Carlos
Até na voz foi estouro
Cantado por Elis Regina
Simone viu essa mina
O Gonzaguinha é ouro.
Passado a fase do choro
Pai e filho se encontraram
No oitenta e um (1981)
Os dois então viajaram
Fizeram uma turnê
E o Brasil pode ver
Pai e filho se afinaram.
Juntos eles se abraçaram
O povo aplaudiu de pé
Ovacionaram Gonzaga
E Gonzaguinha até
A imagem radiante
Em “Vida de viajante”
Não pense que foi migué.
A vida é o que é
Em 29 de abril
Um desastre ocorrido
Lá pelo sul do Brasil
Renascença, Paraná
Fez nosso país chorar
O Gonzaguinha partiu.
O Brasil todo sentiu
O mundo todo chorou
Mas suas lindas canções
Conosco continuou
Gonzaguinha é sucesso
Até hoje eu converso
O seu fã clube ficou.
A família aqui deixou
E ficou para lembrar
O que disse Gonzaguinha
“NUNCA PARE DE SONHAR”
Esse “GUERREIRO MENINO”
Seguindo o plano divino
Seus filhos hão de falar.
São quatro pude contar
DANIEL foi o primeiro
Depois veio a FERNANDA
Vou te contar fofoqueiro
Ele teve esse casal
Da relação conjugal
Com ÂNGELA P. CARREIRO.
O santo casamenteiro
Viu quando se separou
O casou com SANDRA PÊRA
Daí logo resultou
Três anos foi a demora
Nasceu sua filha AMORA
E Gonzaguinha adorou.
Dela também se apartou
Casou-se com Margarete
O casório se manteve
Contei os anos, deu sete
Bacana, ninguém me engana
Daí nasceu MARIANA
Mais uma filha tiete.
Seu samba ainda promete
O “O LINDO LAGO DO AMOR”
E “O QUE É, O QUE É?”
“GRITO DE ALERTA” é flor
E “COM A PERNA NO MUNDO”
A DINA um dizer profundo
Que ele pode compor.
Vi Gonzaguinha no andor
E o Rio inteiro aplaudir
Quando a Império Serrano
Trouxe pra Sapucaí
Cantou: “O QUE É, O QUE É?”
Sambei com a canção: “É”
Quanta emoção senti.
Vou encerrando aqui
Me disperso vou embora
É hora viu Gonzaguinha
Que “UM HOMEM TAMBÉM CHORA”
O meu recado está dado
Você tem nos orgulhado
Te entendo melhor agora.