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GONZAGUINHA – A estrela do morro de São Carlos, Lá do Rio clareou o Brasil
Coluna do Cordel
Publicado em 17/09/2019

Autor: Ivaldo Batista

 

Nesse cordel apresento

Um excelente cantor

Compositor de primeira

Irônico e gozador

Ver se você advinha

Seu nome é Gonzaguinha

Um artista de valor.

 

Ele conseguiu compor

Cada sucesso irado

Entre cantores e o povo

Ele foi admirado

Vou contar a sua história

Uma bela trajetória

Para ficar registrado.

 

Conforme documentado

Cumpro só o meu intento

O seu nome é LUIZ

GONZAGA DO NASCIMENTO

JÚNIOR lembra que é filho

Tal como o pai teve um brilho

Revelou-se um talento.

 

Ouvi seu depoimento

A sua vida foi dura

Apesar do sofrimento

Lamento da criatura

Por tudo que ele passou

E tudo que superou

O nome disso é bravura.

 

Teve excelente postura

Vou contar como se deu

Nos momentos mais difíceis

Uma luz lhe acendeu

Uma sofrida criança

Precisou ter esperança

E Gonzaguinha venceu.

 

Esse garoto nasceu

Vejam a mão do divino

Enfrentou dificuldades

Desde quando foi menino

Mas Deus o iluminou

Dos perigos lhe poupou

Lhe deu um nobre destino.

 

Filho de um nordestino

O Luizinho viveu

Lá no morro de São Carlos

Esse menino cresceu

No Rio, com seus problemas

Enfrentando mil dilemas

Superou tudo e venceu.

 

O Gonzaguinha nasceu

Aos 22 de setembro

No ano quarenta e cinco (1945)

Desse dia eu me lembro

Gonzagão ancho ficava

Na vida dele chegava

Entrava um novo membro.

 

A você aqui relembro

A sua filiação

A mãe: ODALÉIA GUEDES

E o seu pai: GONZAGÃO

Da relação o destino

Entregou esse menino

Que buscará uma razão.

 

Cheio de interrogação

Aos dois anos de idade

Morreu a mãe Odaléia

A dor vem com intensidade

Ficou órfão Luizinho

Não entende o bebezinho

A fatal realidade.

 

Nessa adversidade

Seu pai achou um jeitinho

Entregou o filho a DINA

E XAVIER seu padrinho

O caminho ideal

Na real foi o casal

Que cuidou bem direitinho.

 

Deram amor e carinho

O menino foi crescendo

Convivendo ali no morro

E as coisas percebendo

A vida estava forjando

Um guerreiro se criando

É assim que compreendo.

 

Gonzaga Júnior aprendendo

Tendo sua formação

Foi Henrique Xavier

Quem deu iniciação

O baiano brasileiro

No Rio ensinou primeiro

As aulas de violão.

 

Dando continuação

O garoto aprendeu

No convívio com Pafúncio

Esse mestre que lhe deu

Muita orientação

Aprendeu fazer canção

Daí se desenvolveu.

 

Dessas fontes ele bebeu

Com os mestres da escola

A Unidos de São Carlos

Esse samba o consola

Gonzaguinha estudou

E ali se preparou

Tornou-se esse “show de bola”

 

Junto com sua viola

Aos 16 anos vai

Gonzaguinha decidiu

Quis ir morar com seu pai

Gonzagão bem que tentou

Mas Helena não gostou

E dessa casa ele sai.

 

O coração do pai cai

Do peito do Gonzagão

Não venceu seus argumentos

Para tal situação

Apesar de genitor

Ficou com o seu amor

Foi dura a decisão.

 

Por não ter outra opção

O garoto aceitou

Ficou num colégio interno

E lá ele estudou

E foi nesse internato

Que teve todo aparato

De fato, que precisou.

 

Depois logo ingressou

E cursou Economia

No ano sessenta e sete (1967)

E o seu pai bancaria

Gonzagão pai exigiu

De lá formado saiu

Doutor como o pai queria.

 

A vida dele seguia

E muita chance lhe dava

Na casa de Aluísio  

Agora já frequentava

As rodas de violão

Lá nasceu sua paixão

E Gonzaguinha encontrava.

 

Lá ele contactava

Teve boas amizades

Com Ivan Lins, Cesar Costa

Pessoas de qualidades

Aldir Blanc e outros mais

Dominguinhos foi demais

Daí saiu novidades.

 

Juntos em atividades

Criaram um movimento

Entre universitários

Profícuo esse momento

Foi fundado ali o MAU

Um movimento no grau

Legal em funcionamento.

 

A partir desse incremento

O projeto alavancou

Entrando em festivais

De músicas encantou

Cantou e foi finalista

Tenho até uma lista

De festivais que ganhou.

Em Meia oito chegou

A ser também finalista

Andei fazendo consulta

Vou te passar essa pista

Com “POBREZA POR POBREZA”

E o “TREM” foi com certeza

Sucessos desse artista.

 

Ouvindo sua entrevista

Vi um cantor consciente

Dificuldades vividas

Que enfrentou como gente

Viu um mundo desigual

Fez crítica social

Criticou foi coerente.

 

Refletiu criticamente

A obra dele é amostra

Que suas dificuldades

Que encarou está posta

Nas letras, as belas canções

E suas preocupações

Refletir é uma proposta.

 

Parece ser a resposta

A essa vida cruel

Como se houvesse tomado

Dela um amargo fel

Mostrou-se cantor rancor

Depois venceu foi amor

Tornou-se  um favo de mel.

A vida é um carrossel

E logo em setenta e três (1973)

A sua carreira sofre

Uma mudança de vez

Quando em Flávio Cavalcante

Cantou e daí por diante

Viu a ponte de um xadrez.

 

Foi um jurado burguês

Que criticou o artista

Fizeram acusações

Chamaram de terrorista

“COMPORTAMENTO GERAL”

Uma canção genial

De caráter criticista.

 

Tratado como ativista

No Brasil da ditadura

No dia seguinte foi

Enquadrado na censura

Ele foi advertido

Diversas vezes ouvido

Viram bravura e tortura.

 

Naquela fase obscura

Que o Brasil conheceu

A procura de seus discos

Ligeiramente cresceu

O povo então procurou

Seu compacto esgotou

Tudo dele se vendeu.

Gonzaguinha  “apareceu”

Em um difícil momento

Ele foi levado ao DOPS

Foi dar esclarecimento

Quem sabe se Gonzagão

Naquela situação

Foi quem deu o livramento.

 

Gonzaguinha mais atento

“Gonzaga Júnior gravou”

Depois em setenta e cinco

Gravou seu “Plano de voo”

No ano setenta e seis (1976)

Eu garanto a vocês

O Gonzaguinha mudou.

 

Parece que avaliou

Pensou e deu uma guinada

“COMECAR TUDO OUTRA VEZ”

Foi um disco da virada

A canção virou romântica 

Cuidados com a semântica

A carreira está mudada.

 

Suas letras são cantadas

Estrelas interpretavam

Até Maria Betânia

E outros arrebentavam

Em: “EXPLODE CORAÇÃO”  

A partir dessa canção

Outros sucessos estouravam.

O Brasil todo gritava

Aplaudiam as canções

Reinou nos anos oitenta

Com belas composições

Gonzaguinha consagrado

Era o mais requisitado

Fez diversas gravações.

 

Era um dos campeões

Gonzaga Júnior é tesouro

O moleque do São Carlos

Até na voz foi estouro

Cantado por Elis Regina

Simone viu essa mina

O Gonzaguinha é ouro.

 

Passado a fase do choro

Pai e filho se encontraram

No oitenta e um (1981)

Os dois então viajaram

Fizeram uma turnê

E o Brasil pode ver

Pai e filho se afinaram.

 

Juntos eles se abraçaram

O povo aplaudiu de pé

Ovacionaram Gonzaga

E Gonzaguinha até

A imagem radiante

Em “Vida de viajante”

Não pense que foi migué.

A vida é o que é

Em 29 de abril

Um desastre ocorrido

Lá pelo sul do Brasil

Renascença, Paraná

Fez nosso país chorar

O Gonzaguinha partiu.

 

O Brasil todo sentiu

O mundo todo chorou

Mas suas lindas canções

Conosco continuou

Gonzaguinha é sucesso

Até hoje eu converso

O seu fã clube ficou.

 

A família aqui deixou

E ficou para lembrar

O que disse Gonzaguinha

“NUNCA PARE DE SONHAR”

Esse “GUERREIRO MENINO”

Seguindo o plano divino

Seus filhos hão de falar.

 

São quatro pude contar

DANIEL foi o primeiro

Depois veio a FERNANDA

Vou te contar fofoqueiro

Ele teve esse casal

Da relação conjugal

Com ÂNGELA P. CARREIRO.

O santo casamenteiro

Viu quando se separou

O casou com SANDRA PÊRA

Daí logo resultou

Três anos foi a demora

Nasceu sua filha AMORA

E Gonzaguinha adorou.

 

Dela também se apartou

Casou-se com Margarete

O casório se manteve

Contei os anos, deu sete

Bacana, ninguém me engana

Daí nasceu MARIANA

Mais uma filha tiete.

 

Seu samba ainda promete

O “O LINDO LAGO DO AMOR”

E “O QUE É, O QUE É?”

“GRITO DE ALERTA” é flor

E “COM A PERNA NO MUNDO”

A DINA um dizer profundo

Que ele pode compor.

 

Vi Gonzaguinha no andor

E o Rio inteiro aplaudir

Quando a Império Serrano

Trouxe pra Sapucaí

Cantou: “O QUE É, O QUE É?”

Sambei com a canção: “É”

Quanta emoção senti.

Vou encerrando aqui

Me disperso vou embora

É hora viu Gonzaguinha

Que “UM HOMEM TAMBÉM CHORA”

O meu recado está dado

Você tem nos orgulhado

Te entendo melhor agora.

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