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Dominguinhos - O humilde mestre da sanfona
Coluna do Cordel
Publicado em 30/03/2016

DOMINGUINHOS - O humilde mestre da sanfona

 

Autor: IVALDO BATISTA

 

Peço atenção de todos

Para dar esse recado

Vou falar de Dominguinhos

Esse ser iluminado

Cuja vida e talento

Muito tem nos alegrado.

 

O sucesso alcançado

É fruto da persistência

Desde que era pinguin

Tocava com competência

No Nordeste até hoje

Da cultura é referência.

 

Mostrou toda resistência

De um bravo sertanejo

Quem me levará sou eu

Saudade do meu desejo

A vida de um viajante

Traduzindo foi andejo.

 

 

Aproveito esse ensejo

Para agora lhe contar

Sua vida e sua obra

Tão bela de admirar

Nos versos desse cordel

Eu pretendo lhe contar.

 

Apenas pra recordar

Início de sua história

Bem pequeno o menino

Que marcante trajetória

Mostrava que sua sina

Era alcançar a glória.

 

Essa história é notória

Lá na cidade brejeira

O grupo dos três pinguins

Nenem tocava na feira

Ou na porta do hotel

Na Suíça brasileira.

 

Mestre Orlando Silveira

Muito influenciou

Mas Gonzaga foi padrinho

Ninguém nunca contestou

Foi herdeiro musical

Gonzagão o consagrou.

 

Gonzaga o convidou

Pra ele ir lá pro Rio

Tinha apenas oito anos

Isso era um desafio

E quatro anos depois

Foi que o trato se cumpriu.

 

Foi assim que se uniu

Dominguinhos a Gonzagão

Nas estradas do país

Tocaram junto o baião

Encantaram tanta gente

Com as coisas do sertão.

 

Digo com convicção

Entre os cidadãos comuns

Conheci tantos artistas

Sanfoneiros só alguns

Mas tocar com maestria

Só esse de Garanhuns.

 

Privilégio para uns

Que demonstram ser capaz

Com a força e a vontade

Que não desiste jamais

Que dedica muito tempo

Naquilo que lhe apraz.

 

José Domingos Morais

Nasceu no interior

Veio lá de Garanhuns

Esse exímio cantador

Que além de instrumentista

Era bom compositor.

 

Foi um grande cantador

Conhecido sanfoneiro

Nascido em Quarenta e um (1941)

Em 12 de fevereiro

Lá na cidade das flores

Veio esse brasileiro.

 

Gonzaga foi o primeiro

Que lhe estendeu a mão

Seu sotaque inovador

Na sanfona deu lição

Seu estilo diferente

Foi sua consagração.

 

 

Cantou pra toda nação

Por esse imenso Brasil

Parceiros como Gal Costa

Caetano e Gilberto Gil

Fagner e Flávio José

O mundo todo aplaudiu.

 

Com ele também subiu

Ivan Ferraz já gravou

Betânia, Jorge de Altinho

Toquinho participou

O Geraldo de Azevedo

A Elba interpretou.

 

Nando Cordel já cantou

Participação ao lado

E dezenas de artistas

os novos e os consagrados

Já gravaram Dominguinhos

Um artista respeitado.

 

Dominguinhos é agraciado

Por seu canto regional

Toca encanta todo mundo

Não existe outro igual

Pelo seu amor a terra

Seu canto é universal.

 

Seu estilo musical

Foi bastante premiado

Prêmio Shell e prêmio Tim

Tantos outros lhe foi dado

Recebeu Gramm Latino

É talento consagrado.

 

Orgulho do meu Estado

Eu sou do leão do Norte

Lá da cidade serrana

Dominguinhos é um forte

Toca sempre nossas vidas

Apesar de tua morte.

 

Tivemos a grande sorte

D´ele nos representar

Somos essa identidade

Que o país pode mostrar

Aqui dentro ou lá fora

Irá nos representar.

 

Pra sempre vamos lembrar

Que o mundo aplaudiu

O forró urbanizado

Que o jovem acudiu

Viva o mestre Dominguinhos

Que muito contribuiu.

 

Por tudo que você viu

Nossa vida foi marcada

Dominguinhos foi exemplo

Nessa sua caminhada

Foi modelo para tantos

Veja a sua jornada.

 

A lição que nos foi dada

Está repleta de bondade

Dominguinhos foi humano

Em sua simplicidade

Quem conviveu com o mestre

Bebeu dessa humildade.

 

Tempo de festividade

Garanhuns em alto astral

A notícia chega logo

Gera comoção geral

Dominguinhos está nos braços

Do papai celestial.

 

 

Foi um cara genial

José Domingos Morais

Pela terra passeando

Cantando levando paz

Inspirando seus amigos

Pra mim ele foi demais.

 

Demonstrou como se faz

E o mundo todo escutou

Foram 72 anos

Que na terra habitou

Agora toca nos céus

Por que Deus o convocou.

 

A sanfona que calou

Parou sim foi por respeito

Afinal tantas andanças

Esses laços tão estreitos

Que deixava o seu público

Alegre e satisfeito.

 

O Nordeste tem no peito

Esse filho tão querido

Que venceu tudo na vida

Dominguinhos é aguerrido

Pelo fim de sua vida

O povo está comovido.

 

O mundo está ferido

Partido seu coração

Às dezoito horas ouvi

Falar na televisão

Dominguinhos foi embora

No céu tem recepção.

 

Com Forró, Xote e Baião

Até Choro é alegria

O Jazz e a Bossa Nova

Já fizeram parceria

Dominguinhos tem contrato

Pra tocar todos os dias.

 

Incompleta biografia

Quem sabe não fui capaz

Desconheço partituras

E as notas musicais

Perdoe- me meu santo amigo

 

José Domingos de Morais.

 

O escritor e cordelista Ivaldo Batista, natural de Carpina, Pernambuco, acaba de lançar, através da Editora Coqueiro, um dos primeiros folhetos de cordel dedicado à memoria do cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos. Ivaldo é formado em História pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). bacharel em Teologia pelo STBNB e pós-graduado em História de Pernambuco.

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