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Mestre Vitalino: A Arte Inteligente no Barro
Coluna do Cordel
Publicado em 27/09/2017

Autor: IVALDO BATISTA

 

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(Edição Publicada em 2012 - Registro autoral na biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)

 

Quem foi mestre Vitalino

Quero te apresentar

Foi o maior ceramista

Quem fez o barro falar

Gênio de Caruaru

Estrela desse lugar

 

Apenas pra registrar

Como tudo aconteceu

Eu vou retratar a arte

Exposta no seu museu

O seu filho Severino

Conta tudo que ocorreu

 

Foi assim que ele viveu

Quando ainda menino

Já traçava seu futuro

Desenhando seu destino

Pelo mundo ganhou fama

Viva o mestre Vitalino

 

Um cabra tão nordestino

Sua arte nos envolve

Ele foi o rei do barro

Não precisa que se prove

Vitalino amor e fé

Viveram o maior Love

 

Mil novecentos e nove

Em 10 de julho nasceu

E em 20 de janeiro

De varíola ele morreu

No ano sessenta e três

Vitalino pereceu

 

Foi assim destino seu

Na capital do forró

Humilde sua infância

Numa pobreza de jó

E também depois da fama

Amargou feito jiló

 

Era pobre de dar dó

O seu pai agricultor

Retrato de um povo forte

Expressão de sofredor

Sendo sua mãe oleira

Completava o labor

 

Vitalino é um ator

Uma genialidade

A criança possuía

Com seis anos de idade

Suas mãos faziam peças

Que tinha identidade

 

Com originalidade

E assim se revelou

Quando sua mãe jogava

Um barro que lhe sobrou

O menino inventava

Um brinquedo se formou

 

No forno aproveitou

Pra botar sua moldagem

Brincadeira de criança

Alguém pensa é bobagem

assa vida tá moldando

Um artista com bagagem

 

Era assim sua imagem

Um garoto especial

Veja que ele consegue

Fazer tudo natural

Cada peça que ele faz

É figura regional

 

Ele é original

Sua peça é pra brincar

Reproduz seu dia‐dia

Tudo que pode avistar

Vai ali amassa o barro

Pra poder representar

 

Ô menino vai botar

Boneco no caçuá

Na feira de Caruaru

Quando o burrico chegar

Vai ter gente esperando

Na barraca pra comprar

 

Morava em um lugar

No distrito de Ribeira

Seu pai no Alto do Moura

Comprou terra de primeira

Do sítio veio à cidade

Trazendo a família inteira

 

Essa terra hospitaleira

Mas difícil de encarar

No começo era deserto

Tão distante esse lugar

Sete mil metros de chão

Lá pra feira vai andar

 

Era duro caminhar

Mas ali se contentou

Afinal um homem pobre

Já se banha que comprou

O pedacinho de terra

E o sonho realizou

 

Vitalino batalhou

Pra ele tiro o chapéu

Teve dezoito filhinhos

Alguns já estão no céu

Ficou Antônio e Maria

Amaro e Manoel

 

Um deles teve o papel

Da obra continuar

Meu amigo Severino

Não deixa a obra parar

Tudo que teu pai já fez

 

Teu dever é ensinar

O mundo tem que lembrar

O ilustre conhecido

Suas mãos quem despertou

Dilema já esquecido

Uma região tão rica

E um povo empobrecido

 

Artista reconhecido

Mereceu grande atenção

Afinal o seu talento

Traduz o seu coração

Revela o cotidiano

Do povo da região

 

Amistosa a relação

Com seus admiradores

Zé Caboclo e Zé Rodrigues

Entre os seus seguidores

Tem Galdino e Eudócio

Transmitindo esses valores

 

Quantos são esses atores

Eu não posso adivinhar

Tentei no Alto do Moura

Com Nicinha fui falar

Essa grande artesã

Decidiu me ajudar

 

Lembro que nesse lugar

O mestre foi pioneiro

Seu talento era ímpar

Criador desse celeiro

O seu nome lá do alto

Visível ao mundo inteiro

 

Gigante esse oleiro

Conseguindo transformar

Seus bonecos eram simples

Que atraiam o olhar

Tem uma que fala muito

Figura tão singular

 

O gato maracajá

Na árvore tá trepado

Em baixo o caçador

E seu cachorro ao lado

A imagem tá mostrando

O gato tá acuado

 

Está bem representado

Vitalino é sintonia

O local que ele vive

Toda a simbologia

Tudo que observava

Com barro ele fazia

 

Fazia tudo que via

Batizado boi vaqueiro

Fez cena de casamento

Lampião o cangaceiro

Tudo na feira vendia

Até pra o estrangeiro

 

A casa do farinheiro

O dentista e o carro

Enterro feito com rede

Banda de Pife e Jarro

Os temas da sua lida

Em todos eu me amarro

 

Vitalino deus do barro

Disse Petrúcio Amorim

Na visão desse poeta

Que o descreve assim

Sua arte foi notória

Só faltou ganhar din din

 

Teus bonecos são pra mim

É assim que eu ensino

Ao mostrar esses bonecos

Digo provo e assino

Que o homem cidadão

Já começa de menino

 

Casa Museu Vitalino

É lugar especial

Uma riqueza abundante

E de valor sem igual

Que traduz em sua essência

A cultura regional

 

E na casa do pontal

Lá tem arte popular

A arte de Vitalino

Lá se pode encontrar

É no Rio de janeiro

Está lá pra comprovar

 

Vitalino foi mostrar

Nordeste no estrangeiro

Na França e na Suíça

Tem peça desse oleiro

Já foi até em Brasília

E ao Rio de janeiro

 

Todo povo brasileiro

Já pode testemunhar

O Império da Tijuca

100 anos comemorar

O samba foi Vitalino

Foi pra homenagear

 

Caruaru para lembrar

Filho ilustre artesão

A vida e sua obra

Serviu de inspiração

100 anos de Vitalino

Foi tema do São João

 

Caruaru de Azulão

Que vive para cantar

Talento de Vitalino

Percepção singular

Sua vida é espelho

Que podemos imitar

 

Quero aqui aclamar

Buscar nele inspiração

O cordel que agora fiz

Pra sua recordação

Vitalino é pro mundo

Ainda revelação

 

Amou assim este chão

Desse barro eu já fiz

Uma ponte que nos liga

O agreste até Paris

Amassando com as mãos

Do barro fez o que quis

 

Vitalino foi feliz

Ensinou bem a lição

Foi sempre um companheiro

Foi um pai pro artesão

Fez cento e dezoito tipos

Na arte é campeão

 

Também chamou atenção

Pois gostava de tocar

Vitalino tinha um Pife

O som é de admirar

Zabumba foi uma banda

Que ele conseguiu formar

 

E até nos transportar

Aqui no imaginário

A seca a migração

Esse problema agrário

Procissão e Lampião

Compõe seu vocabulário

 

Ele tornou‐se lendário

Vitalino é memória

As crianças já escutam

Velhos contam a história

Que Vitalino Pereira

Experimentou a glória

 

Sua linda trajetória

Que o Brasil admirou

Suas mãos tão talentosas

Que tocando transformou

O barro do Ipojuca

Cuja vida ele soprou

 

Arte que vida imitou

E com a simplicidade

Tudo é memorial

Pra nossa humanidade

Vitalino tua marca

Imprimiu eternidade

 

Cidadão sem vaidade

Mostrou seu torrão natal

O seu reconhecimento

Hoje internacional

Vitalino és bandeira

Da cultura nacional

 

Lá do sítio afinal

Tem belezas pra se ver

Vitalino é amostra

É exemplo pra valer

Venha pro Alto do Moura

Visitar pra você crer

 

Paro agora de escrever

Pois eu tenho que comprar

Um boneco que eu vi

Gosto de colecionar

A arte de Vitalino

Dizem pode até falar.

 

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