Autor: IVALDO BATISTA
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(Edição Publicada em 2012 - Registro autoral na biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)
Quem foi mestre Vitalino
Quero te apresentar
Foi o maior ceramista
Quem fez o barro falar
Gênio de Caruaru
Estrela desse lugar
Apenas pra registrar
Como tudo aconteceu
Eu vou retratar a arte
Exposta no seu museu
O seu filho Severino
Conta tudo que ocorreu
Foi assim que ele viveu
Quando ainda menino
Já traçava seu futuro
Desenhando seu destino
Pelo mundo ganhou fama
Viva o mestre Vitalino
Um cabra tão nordestino
Sua arte nos envolve
Ele foi o rei do barro
Não precisa que se prove
Vitalino amor e fé
Viveram o maior Love
Mil novecentos e nove
Em 10 de julho nasceu
E em 20 de janeiro
De varíola ele morreu
No ano sessenta e três
Vitalino pereceu
Foi assim destino seu
Na capital do forró
Humilde sua infância
Numa pobreza de jó
E também depois da fama
Amargou feito jiló
Era pobre de dar dó
O seu pai agricultor
Retrato de um povo forte
Expressão de sofredor
Sendo sua mãe oleira
Completava o labor
Vitalino é um ator
Uma genialidade
A criança possuía
Com seis anos de idade
Suas mãos faziam peças
Que tinha identidade
Com originalidade
E assim se revelou
Quando sua mãe jogava
Um barro que lhe sobrou
O menino inventava
Um brinquedo se formou
No forno aproveitou
Pra botar sua moldagem
Brincadeira de criança
Alguém pensa é bobagem
assa vida tá moldando
Um artista com bagagem
Era assim sua imagem
Um garoto especial
Veja que ele consegue
Fazer tudo natural
Cada peça que ele faz
É figura regional
Ele é original
Sua peça é pra brincar
Reproduz seu dia‐dia
Tudo que pode avistar
Vai ali amassa o barro
Pra poder representar
Ô menino vai botar
Boneco no caçuá
Na feira de Caruaru
Quando o burrico chegar
Vai ter gente esperando
Na barraca pra comprar
Morava em um lugar
No distrito de Ribeira
Seu pai no Alto do Moura
Comprou terra de primeira
Do sítio veio à cidade
Trazendo a família inteira
Essa terra hospitaleira
Mas difícil de encarar
No começo era deserto
Tão distante esse lugar
Sete mil metros de chão
Lá pra feira vai andar
Era duro caminhar
Mas ali se contentou
Afinal um homem pobre
Já se banha que comprou
O pedacinho de terra
E o sonho realizou
Vitalino batalhou
Pra ele tiro o chapéu
Teve dezoito filhinhos
Alguns já estão no céu
Ficou Antônio e Maria
Amaro e Manoel
Um deles teve o papel
Da obra continuar
Meu amigo Severino
Não deixa a obra parar
Tudo que teu pai já fez
Teu dever é ensinar
O mundo tem que lembrar
O ilustre conhecido
Suas mãos quem despertou
Dilema já esquecido
Uma região tão rica
E um povo empobrecido
Artista reconhecido
Mereceu grande atenção
Afinal o seu talento
Traduz o seu coração
Revela o cotidiano
Do povo da região
Amistosa a relação
Com seus admiradores
Zé Caboclo e Zé Rodrigues
Entre os seus seguidores
Tem Galdino e Eudócio
Transmitindo esses valores
Quantos são esses atores
Eu não posso adivinhar
Tentei no Alto do Moura
Com Nicinha fui falar
Essa grande artesã
Decidiu me ajudar
Lembro que nesse lugar
O mestre foi pioneiro
Seu talento era ímpar
Criador desse celeiro
O seu nome lá do alto
Visível ao mundo inteiro
Gigante esse oleiro
Conseguindo transformar
Seus bonecos eram simples
Que atraiam o olhar
Tem uma que fala muito
Figura tão singular
O gato maracajá
Na árvore tá trepado
Em baixo o caçador
E seu cachorro ao lado
A imagem tá mostrando
O gato tá acuado
Está bem representado
Vitalino é sintonia
O local que ele vive
Toda a simbologia
Tudo que observava
Com barro ele fazia
Fazia tudo que via
Batizado boi vaqueiro
Fez cena de casamento
Lampião o cangaceiro
Tudo na feira vendia
Até pra o estrangeiro
A casa do farinheiro
O dentista e o carro
Enterro feito com rede
Banda de Pife e Jarro
Os temas da sua lida
Em todos eu me amarro
Vitalino deus do barro
Disse Petrúcio Amorim
Na visão desse poeta
Que o descreve assim
Sua arte foi notória
Só faltou ganhar din din
Teus bonecos são pra mim
É assim que eu ensino
Ao mostrar esses bonecos
Digo provo e assino
Que o homem cidadão
Já começa de menino
Casa Museu Vitalino
É lugar especial
Uma riqueza abundante
E de valor sem igual
Que traduz em sua essência
A cultura regional
E na casa do pontal
Lá tem arte popular
A arte de Vitalino
Lá se pode encontrar
É no Rio de janeiro
Está lá pra comprovar
Vitalino foi mostrar
Nordeste no estrangeiro
Na França e na Suíça
Tem peça desse oleiro
Já foi até em Brasília
E ao Rio de janeiro
Todo povo brasileiro
Já pode testemunhar
O Império da Tijuca
100 anos comemorar
O samba foi Vitalino
Foi pra homenagear
Caruaru para lembrar
Filho ilustre artesão
A vida e sua obra
Serviu de inspiração
100 anos de Vitalino
Foi tema do São João
Caruaru de Azulão
Que vive para cantar
Talento de Vitalino
Percepção singular
Sua vida é espelho
Que podemos imitar
Quero aqui aclamar
Buscar nele inspiração
O cordel que agora fiz
Pra sua recordação
Vitalino é pro mundo
Ainda revelação
Amou assim este chão
Desse barro eu já fiz
Uma ponte que nos liga
O agreste até Paris
Amassando com as mãos
Do barro fez o que quis
Vitalino foi feliz
Ensinou bem a lição
Foi sempre um companheiro
Foi um pai pro artesão
Fez cento e dezoito tipos
Na arte é campeão
Também chamou atenção
Pois gostava de tocar
Vitalino tinha um Pife
O som é de admirar
Zabumba foi uma banda
Que ele conseguiu formar
E até nos transportar
Aqui no imaginário
A seca a migração
Esse problema agrário
Procissão e Lampião
Compõe seu vocabulário
Ele tornou‐se lendário
Vitalino é memória
As crianças já escutam
Velhos contam a história
Que Vitalino Pereira
Experimentou a glória
Sua linda trajetória
Que o Brasil admirou
Suas mãos tão talentosas
Que tocando transformou
O barro do Ipojuca
Cuja vida ele soprou
Arte que vida imitou
E com a simplicidade
Tudo é memorial
Pra nossa humanidade
Vitalino tua marca
Imprimiu eternidade
Cidadão sem vaidade
Mostrou seu torrão natal
O seu reconhecimento
Hoje internacional
Vitalino és bandeira
Da cultura nacional
Lá do sítio afinal
Tem belezas pra se ver
Vitalino é amostra
É exemplo pra valer
Venha pro Alto do Moura
Visitar pra você crer
Paro agora de escrever
Pois eu tenho que comprar
Um boneco que eu vi
Gosto de colecionar
A arte de Vitalino
Dizem pode até falar.