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ATAULFO ALVES - A Mina de Samba em MIRAÍ
Coluna do Cordel
Publicado em 13/06/2023

Autor: IVALDO BATISTA

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Hoje acordei pensando

Chorei por ser saudosista

Quem sabe por ser poeta

Tipo memorialista

Agora quero contar

Pra todo leitor lembrar

Um grande mestre sambista.

 

Eu sou Ivaldo Batista

Vejo a cultura de luto

Defendo nossas raízes

Nossa arte, nosso fruto

Pra isto quero “Os salves!”

Ao grande ATAULFO ALVES

Vou prestar este tributo.

 

Daqui sai resoluto

E fui até MIRAÍ

Nessa cidade mineira

Pequenina que eu vi

Este baú ou tesouro

O lugar nos deu um ouro

Ataulfo é daqui.

 

Enquanto garoto ouvi

Ainda tenho lembrança

Nosso gênio ATAULFO

Quem ouve nunca se cansa

É NA CADÊNCIA DO SAMBA

MIRAÍ, CORDA e CAÇAMBA

Os MEUS TEMPOS DE CRIANÇA.

 

Nesta fase a vida é mansa

POIS É, eu achei doçura

AI QUE SAUDADE DA AMÉLIA

E da LARANJA MADURA 

Eu SEI QUE É COVARDIA 

LEVA MEU SAMBA pedia

É uma poesia pura.

 

Veja só quanta candura

Em VIDA DA MINHA VIDA

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Todos têm esta ferida

VOCÊ PASSA EU ACHO GRAÇA

O cordel está na praça

Pra minha gente querida.

 

Foi só uma resumida

De canções que nos marcaram

Cantadas por Ataulfo

E tantos já regravaram

O povo deste Brasil

Cantou e deu nota mil

E de saudade choraram.

 

Aos cantores que cantaram

E já fizeram sucesso

Com as composições deste

Levante a mão eu peço

Enquanto aqui aguardo

Eu lembro CARLOS GALHARDO

Melhor cantor eu confesso.

 

As palavras aqui eu meço 

Para você entender

Foi no dia dois de maio (02.05)

Que Mirai viu nascer

Mil novecentos e nove (1909)

O Ataulfo resolve

No mundo aparecer.

 

Foi difícil pra valer

A vida desse mineiro

Vida de criança pobre

Era mais um brasileiro

De uma família gigante

Mas este será brilhante

Pois tem sina guerreiro.

 

O seu pai foi violeiro

Repentista e cantor

 O SEVERINO DE SOUZA

Foi seu pai, seu genitor

Que além de sanfoneiro

Deixou esses sete herdeiros 

Era um agricultor.

 

Conhecendo dei valor

A esta mulher forte

É MATILDE DE JESUS

A sua mãe foi suporte

Pra conseguir alimento

Em um difícil momento

Resultante dessa morte.

 

Essa mãe virou o “norte”

E assim aconteceu

Seu Severino de Souza

Precocemente morreu

ATAULFO aos dez anos

Ele e os sete manos 

Choraram por que doeu.

 

Nesse mundo de meu Deus

Ataulfo trabalhou

E no sustento da casa

Esse garoto ajudou

Foi moleque de recado

E trabalhou em roçado

Como engraxate atuou. 

 

A vida boa acabou

Quando ele respondia

Aos improvisos do pai 

Por aí na cantoria

Desde os seus oito anos

O garoto fez uns planos

Agora adiaria.

 

Ataulfo estudaria

Em um grupo escolar

DOUTOR JUSTINO PEREIRA

Ai pode estudar

Foi neste Justino

Que Ataulfo menino

Começou logo a sonhar.

 

Chamado pra trabalhar

Ele viajou pra o Rio

Tinha já dezoito anos

E um novo desafio

Doutor Afrânio Resende

O jovem rapaz entende

A tal coragem aprecio.

 

Nesta parte abrevio

Trabalhou num consultório

Depois foi para farmácia

E área de laboratório

Morou em RIO COMPRIDO 

Fez o que era exigido

Mas tudo era simplório.

 

Eu deixo isso notório

Que enquanto trabalhou

De umas rodas de samba

O jovem participou

Foi aprender violão

O samba trouxe a paixão

Ele se apaixonou.

 

Olha como começou

Sua vida conjugal

No ano de vinte e oito (1928)

Teve cerimonial

Com JUDITE se casou

Uma família formou

Segundo a lei divinal.

Ataulfo triunfal

No trabalho promovido

Tinha dezenove anos

E o seu sonho atendido

Nasceu sua filha ADÉLIA

Mas que SAUDADE de AMÉLIA 

Canta com gosto o marido.

 

Num conjunto envolvido

Cantando nas regiões

Foi diretor de harmonia 

Fez até composições

Iniciava a carreira

Na música brasileira 

Chegou um dos campeões. 

 

Recebeu as atenções

Do EVANS americano

Lá na RCA Victor 

Quem gravou foi FLORIANO

Gravado em primeira mão

SAUDADE DO BARRACÃO

Trinta e cinco era o ano (1935).

 

Outra canção sem engano

MENINA QUE PINTA O SETE 

Depois foi SAUDADE DELA

Pena que não tinha net 

Mas hoje pra escutar

Mande o Google procurar

Que a pesquisa promete.

 

Eu era só um pivete

Quando ATAULFO morreu

No ano sessenta e nove 

Esse mestre faleceu

Dia vinte de abril (20.04)

Chorou por ele o Brasil

E o samba se abateu.

 

O mundo o conheceu

Quando Humberto Teixeira

Fez a sua Caravana

Levou pra terra estrangeira

Ataulfo estava nela

Mostrou a música bela

A música brasileira.

 

Sua volta foi ligeira

Voltou ao exterior

No ano sessenta e nove (1969)

Foi mostrar o seu valor

Em DAKAR no Senegal 

Evento internacional

Estava o nosso cantor.

 

Ao todo pode compor 

Mais de trezentas canções

Nossa CLARA NUNES fez 

Belas interpretações

O grande Quarteto em CY 

Do Oiapoque ao Chuí 

Temos muitas gravações.

 

Hoje as recordações

Fazem dele imortal

As lembranças de Ataulfo

Em sua terra natal

Tem espaço garantido

Pra ser visto e curtido

Num lindo memorial.

 

O poder municipal

Preserva a identidade

Desse seu filho ilustre

Grande personalidade 

Entre objetos as fotos

Desde os tempos remotos

Pra devotos na cidade.

 

Essa grandiosidade

E o talento que eu Vi

Do mineiro Ataulfo

Alves que eu escrevi

Eu nasci lá em Carpina

Mas MIRAÍ pequenina

Eu vim aprender de ti.

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