Autor: IVALDO BATISTA
Venho aqui ao Estado do Pará
Representando os pernambucanos
Dona Onete fará oitenta anos
Este ano em junho vai completar
Um cordel fiz pra lhe presentear
Exaltando o gingado e o suor
Da cabocla que virou meu xodó
Eu vou deslindar seu segredo aqui.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Ela nasceu em dezoito de junho
Em mil novecentos e trinta e nove
A cultura da terra ela absorve
E defende com seus cerrados punhos
Mostra verdade em seu testemunho
De Belém é representante mor
É paixão da Ilha de Marajó
Seu segredo é Igarapé Miri.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbo.
Nasceu no interior do Pará
Passou a sua infância em Belém
Foi em Igarapé - Miri porém
Que Dona Onete teve que passar
Pra morar se formar e trabalhar
Enfrentou a vida sem có có có
Resistiu e lutou fez seu melhor
Preparou-se e pode se garantir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Ela trabalhou como professora
Ensinou ao paraense história
Além de erudita é memória
De agremiações foi fundadora
De uns grupos foi organizadora
Ao cantar faz o que sabe melhor
Dona Onete é boa de gogó
Tem segredo aí é só ouvir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbo.
Com 25 anos de docência
Dona Onete está aposentada
Professora de História muito amada
Some o riso e a sua eloquência
No estudo do Pará é eficiência
Das “Raízes do cafezal” suor
Também “Coletivo Rádio Cipó”
A cultura ela sabe traduzir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
É Ionete da Silveira Gama
Do Pará uma gama de saber
Quem ouviu Dona Onete pode crer
A floresta deu ao mundo essa dama
Com raízes na terra ganhou fama
É o que o Pará tem de melhor
Seu chamego apaixonante que só
O segredo deve está no Açaí.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Dona Onete declama o seu mundo
Ela é encantadora de boto
Alegria externada no rosto
Faz a gente se envolver num segundo
Do Pará é um sabor tão profundo
Seu saber se torna inda maior
É relíquia de um mundo brechó
O segredo deve está no tucupi.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Sua dança nunca saiu de moda
Está no sangue do povo do Pará
É forte feito o nosso tacacá
É feito a brincadeira de roda
Na essência tocado com pau e corda
Cujo termo Tupy é Korimbó
No passado curimbó ou corimbó
O segredo de Onete está aí.
Vinda de cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbo.
Dona Onete canta o Pará inteiro
A cultura no seu canto deságua
Sua terra, a floresta e as águas
Esse mundo que traduz o banzeiro
No seu canto original brasileiro
Que endossa a lenda do Timbó
Mostra a verdade do Ocumató
É a mistura das as lendas dali.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbo.
Teu segredo Onete tá na comida
Na Pescada Amarela ou Pratiqueira
No Robalo da terra da mangueira
Ou nas frutas que fez tua bebida
Da comida a bebida está vestida
É da vida natural Ingá cipó
Degustou frita a Pescada Gó
E tomando suco de Murici.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbo.
Dona Onete é cultura é resistência
Ela é a luta pra preservar
É a memória viva do Pará
Tem na alma a fragrância a essência
Naturalmente ela é docência
Ela entende bem do borogodó
Colhe alegria até do jiló
E conhece a lei do Jurupari.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Ela canta carimbó chamegado
BALANÇA CRIOULO, BOI GUITARREIRO
NO MEIO DO PITIÚ e BANZEIRO
CHUÊ CHUA, MORENO MORENADO
JAMBURANA dar um tremor danado
O jambu responde por isso só
Dona Onete é receita da vovó
Mas a receita dela eu nunca vi.
Vinda de cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbo.
Terruá revelou que é do Pará
Essa grande atração paraense
Cedo ou tarde na vida ela vence
Ela representa bem seu lugar
Paro tudo pra ouvi-la cantar
De emoção eu choro de fazer dó
Vejo a hora fechar o paletó
Mas eu sigo a receita vou curtir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
O segredo de dona Onete está
Que alguém saiba disso eu duvido
Foi um boto falando ao seu ouvido
Nas águas do rio Maiauatá
És mais bela que a cabocla Iaiá
O teu canto pra mim é o melhor
Muito prazer sou o boto Bibó
Cante sempre aqui quero te ouvir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Ela com o boto se comunicava
Encantou-se com o boto namorador
Já sentiu do Jambu todo tremor
Quando sua comida temperava
No feitiço caboclo receitava
Tome chá do Tamaquaré em pó
Seu efeito garantido que só
Por Onete faceira prescrevi.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Por um dia eu queria nadar
Acompanhar Onete flor cheirosa
Encontrar com o boto cor de rosa
Nas aguas do rio Maiauatá
Lá no Anapu poder mergulhar
Agradecer a nosso Deus maior
Esquecer a seca do Seridó
Curti o malhado e o tucuchi.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser rainha do carimbó.
Dona Onete é talento é Terruá
É “PROPOSTA INDECENTE” é “FACEIRA”
É a garça branca namoradeira
Que me faz ao “VER O PESO” voltar
Qual urubu quero voltar pra lá
Ouvir Banguê, Síria e Carimbó
Chamegado e CORAÇÃO DE BRECHÓ
QUEIMOSO e TRAVOSO e TIPITI.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser Rainha do carimbó.
Dona Onete pra mim tu és lembrança
És um templo sagrado do Pará
És a alma do peixe do Guamá
Do Anapu, Pindobal que não se cansa
No teu canto eu vejo a esperança
Que o mundo amanha será melhor
Grata a você diva do carimbó
Neste solo és a Dalva és Ijaci.
Vinda de cachoeira do Arari
Para ser Rainha do carimbó.
Sou um peixe dos rios do Pará
Sou pescador e também sou barqueiro
Eu sou um ribeirinho eu sou pesqueiro
Que chegou a Belém por Guajará
Tô no Ver - o- peso pra declamar
Falar de Dona Onete meu xodó
Que traduz a beleza do Igapó
Que singrando esses rios descobri.
Vinda de cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Obrigado Onete por cantar
Decantar todas as nossas raízes
Suas canções nos deixam mais felizes
Por mostrar as belezas do Pará
Nossos rios, nossas ervas, nosso chá
Eternizados no teu carimbó
Registrando no mundo nosso melhor
Eu não canso Onete de te ouvir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Pesquisei Onete na internet
Esta mulher é uma lenda viva
A guerreira ativa nos cativa
Dela todo Pará virou tiete
Desde criança a Dona Onete
Fazendo as travessuras foi o ó
Dos paraenses é ouro em pó
É tesouro revelado ali.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Dona Onete é quem interpretou
Revelou todo encanto do Pará
Tudo que existe nesse lugar
Nas composições a mesma cantou
E pra o mundo ela revelou
O saber valioso da vovó
Sua terra abençoada que só
Essa diva conseguiu transmitir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Dona Onete é cultura do Pará
Expressão maior das lendas do Norte
É cenário, ícone de um povo forte
Que tem sabido bem representar
Ela é revelação do lugar
Em Belém não encontro outra melhor
Quero um dia vê-la cantar forró
Seu Ivan Ferraz olha a dica aí.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Eu gostaria de ser convidado
Com a Dona Onete um dia eu quero
Dançar carimbó, Banguê, Bolero
Envolver-me nesse ritmo joiado
No banzeiro eu quero ser jogado
No chamegado agarrado ou só
Com Iaiá, Sinhá ou com a filó
No carimbó eu vou me exibir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Quem falou pra mim foi um pescador
Que viu a Dona Onete na Areia
Desconfio que seja uma sereia
Na pele de mulher para compor
Traduziu a floresta com amor
Vou depressa largar meu Moxotó
E grudar bem nela no mocotó
Pra jamais de perto dela sair.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Essa flor tem no cabelo outra flor
Esbanjando a sua identidade
No balanço sua sensualidade
É da flor do jambu o tal queimo
Que provoca no meu Brasil tremor
Dona Onete faz levantar o pó
Dos casais ela tem sido o xodó
Eles brigam, ela consegue unir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Compôs mais de quatrocentas canções
Lá do Norte ela é um dicionário
Ela tem um rico vocabulário
Mostra a região nas composições
Seu domínio inclui as tradições
Ela sabe o passado de có
Misturando faz o borogodó
Tal como tacacá no tucupi.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Acho que Dona Onete encarnou
Todas as lendas dessa região
Sua alma é pura encarnação
Da vida que a floresta brotou
Nesses rios por onde navegou
Se “banhou” a ilha de Marajó
Viu os ribeirinhos pobres de jó
Morando na capital do açaí.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Dona Onete é estrela de Belém
Deve ser tratada de excelência
Só pra ela eu presto continência
Sua resistência vai bem além
No cantar algo diferente tem
A mulher canta mais que um curió
A danada é boa de gogó
De Belém Onete é meu Bem-te-vi
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó
Quem quiser saber mais de sua vida
Leia o livro “Menina Onete”
Também vá pesquisar na internet
Se houver algo que você duvida
Compre a sua passagem de ida
Vá você ao Pará que é melhor
Perguntar a nossa madre vovó
E de seu conhecer usufruir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Após setenta anos de idade
O Pará parou pra nos revelar
Dona Onete veio pra arrebentar
Ela faz sucesso na boa idade
Com carisma e versatilidade
Sua voz rouca canta o carimbó
Das cantoras existentes é a maior
Eu convido você para ouvir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Dona Onete “Flor de lua” é sem páreo
Vida longa a cantora popular
O mundo todo quer prestigiar
Sua vida em um documentário
Um exemplo de viver libertário
Ela hoje prefere viver só
O seu público a tem como xodó
Todos querem de pé lhe aplaudir.
Vinda de Cachoeira do Arari
Para ser a diva do carimbó.
Dona Onete é fruto camu – camu
É pupunha, bacuri é buriti
Tucumã, tacacá é tipiti
Pepino do mato e cupuaçu
Inajá, Araçá boi e cubiu
Bacuripari, pajurá abricó
É tão bela quanto meu girassol
É Umari, palmeira de açaí.
Nasceu em Cachoeira do Arari
E tornou-se a diva do carimbó.
No Pará de Ary Lobo e Pinduca
Dona Onete veio estrelar na festa
Seu sucesso e brilho ninguém contesta
Das canções temperadas é mestre cuca
Toda a letra que ela canta educa
Faz-nos ver que o Pará é bem maior
Aprender no Chamego é melhor
Ela está ai pra contribuir.
Nasceu em Cachoeira do Arari
E cresceu é diva do carimbó.
Obrigado amigo Elielzo
Por me apresentar a Dona Onete
Vi porque o mundo joga confete
Pela sua vida agora eu rezo.
Pela sua amizade também prezo
Minha inspiração, musa vovó
Seu saber vale mais que ouro em pó
Que os talentos novos devem seguir.
Nasceu em Cachoeira do Arari
Consagrou-se é diva do carimbó.