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DONA ONETE – O segredo dessa lenda viva do Pará
Coluna do Cordel
Publicado em 02/01/2019

Autor: IVALDO BATISTA 

 

Venho aqui ao Estado do Pará 

Representando os pernambucanos

Dona Onete fará oitenta anos

Este ano em junho vai completar

Um cordel fiz pra lhe presentear

Exaltando o gingado e o suor

Da cabocla que virou meu xodó

Eu vou deslindar seu segredo aqui.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Ela nasceu em dezoito de junho

Em mil novecentos e trinta e nove

A cultura da terra ela absorve

E defende com seus cerrados punhos

Mostra verdade em seu  testemunho

De Belém é representante mor

É paixão da Ilha de Marajó

Seu segredo é Igarapé Miri.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbo.

 

Nasceu no interior do Pará

Passou a sua infância em Belém

Foi em Igarapé - Miri porém 

Que Dona Onete teve que passar

Pra morar se formar e trabalhar

Enfrentou a vida sem có có có

Resistiu e lutou fez seu melhor

Preparou-se e pode se garantir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Ela trabalhou como professora

Ensinou ao paraense história

Além de erudita é memória

De agremiações foi fundadora

De uns grupos foi organizadora

Ao cantar faz o que sabe melhor

Dona Onete é boa de gogó

Tem segredo aí é só ouvir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbo.

 

Com 25 anos de docência

Dona Onete está aposentada

Professora de História muito amada

Some o riso e a sua eloquência

No estudo do Pará é eficiência

Das “Raízes do cafezal” suor

Também “Coletivo Rádio Cipó”

A cultura ela sabe traduzir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

É Ionete da Silveira Gama

Do Pará uma gama de saber

Quem ouviu Dona Onete pode crer

A floresta deu ao mundo essa dama

Com raízes na terra ganhou fama 

É o que o Pará tem de melhor

Seu chamego apaixonante que só

O segredo deve está no Açaí.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Dona Onete declama o seu mundo 

Ela é encantadora de boto

Alegria externada no  rosto

Faz a gente se envolver num segundo

Do Pará é um sabor tão profundo

Seu saber se torna inda maior

É relíquia de um mundo brechó 

O segredo deve está no tucupi.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Sua dança nunca saiu de moda

Está no sangue do povo do Pará

É forte feito o nosso tacacá

É feito a brincadeira de roda

Na essência tocado com pau e corda

Cujo termo Tupy é Korimbó

No passado curimbó ou corimbó

O segredo de Onete está aí.

Vinda de cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbo.

 

Dona Onete canta o Pará inteiro

A cultura no seu canto deságua 

Sua terra, a floresta e as águas

Esse mundo que traduz o banzeiro

No seu canto original brasileiro

Que endossa a lenda do Timbó

Mostra a verdade do Ocumató 

É a mistura das as lendas dali.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbo.

 

Teu segredo Onete tá na comida

Na Pescada Amarela ou Pratiqueira

No Robalo da terra da mangueira

Ou nas frutas que fez tua bebida

Da comida a bebida está vestida

É da vida natural Ingá cipó

Degustou frita a Pescada Gó

E tomando suco de Murici.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbo.

 

Dona Onete é cultura é resistência

Ela é a luta pra preservar

É a memória viva do Pará 

Tem na alma a fragrância a essência

Naturalmente ela é docência

Ela entende bem do borogodó

Colhe alegria até do jiló

E conhece a lei do Jurupari.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Ela canta carimbó chamegado

BALANÇA CRIOULO, BOI GUITARREIRO 

NO MEIO DO PITIÚ e BANZEIRO 

CHUÊ CHUA, MORENO MORENADO

JAMBURANA dar um tremor danado

O jambu responde por isso só

Dona Onete é receita da vovó

Mas a receita dela eu nunca vi.

Vinda de cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbo.

 

 

Terruá revelou que é do Pará

Essa grande atração paraense

Cedo ou tarde na vida ela vence

Ela representa bem seu lugar

Paro tudo pra ouvi-la cantar

De emoção eu choro de fazer dó

Vejo a hora fechar o paletó

Mas eu sigo a receita vou curtir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

O segredo de dona Onete está 

Que alguém saiba disso eu duvido

Foi um boto falando ao seu ouvido

Nas águas do rio Maiauatá 

És mais bela que a cabocla Iaiá

O teu canto pra mim é o melhor

Muito prazer sou o boto Bibó

Cante sempre aqui quero te ouvir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Ela com o boto se comunicava

Encantou-se com o boto namorador

Já sentiu do Jambu todo tremor

Quando sua comida temperava

No feitiço caboclo receitava

Tome chá do Tamaquaré em pó

Seu efeito garantido que só

Por Onete faceira prescrevi.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Por um dia eu queria nadar

Acompanhar Onete flor cheirosa

Encontrar com o boto cor de rosa

Nas aguas do rio Maiauatá

Lá no Anapu poder mergulhar

Agradecer a nosso Deus maior

Esquecer a seca do Seridó

Curti o malhado e o tucuchi.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser rainha do carimbó.

 

Dona Onete é talento é Terruá

É “PROPOSTA INDECENTE” é “FACEIRA”

É a garça branca namoradeira

Que me faz ao “VER O PESO” voltar

Qual urubu quero voltar pra lá

Ouvir Banguê, Síria e Carimbó

Chamegado e CORAÇÃO DE BRECHÓ

QUEIMOSO e TRAVOSO e TIPITI. 

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser Rainha do carimbó. 

 

Dona Onete pra mim tu és lembrança

És um templo sagrado do Pará

És a alma do peixe do Guamá

Do Anapu, Pindobal que não se cansa

No teu canto eu vejo a esperança

Que o mundo amanha será melhor

Grata a você diva do carimbó

Neste solo és a Dalva és Ijaci.

Vinda de cachoeira do Arari

Para ser Rainha do carimbó.

 

Sou um peixe dos rios do Pará

Sou pescador e também sou barqueiro

Eu sou um ribeirinho eu sou pesqueiro

Que chegou a Belém por Guajará

Tô no Ver - o- peso pra declamar

Falar de Dona Onete meu xodó

Que traduz a beleza do Igapó

Que singrando esses rios descobri.

Vinda de cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Obrigado Onete por cantar

Decantar todas as nossas raízes

Suas canções nos deixam mais felizes

Por mostrar as belezas do Pará

Nossos rios, nossas ervas, nosso chá

Eternizados no teu carimbó

Registrando no mundo nosso melhor

Eu não canso Onete de te ouvir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Pesquisei Onete na internet

Esta mulher é uma lenda viva

A guerreira ativa nos cativa

Dela todo Pará virou tiete

Desde criança a Dona Onete

Fazendo as travessuras foi o ó

Dos paraenses é ouro em pó

É tesouro revelado ali.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Dona Onete é quem interpretou

Revelou todo encanto do Pará

Tudo que existe nesse lugar

Nas composições a mesma cantou

E pra o mundo ela revelou

O saber valioso da vovó

Sua terra abençoada que só

Essa diva conseguiu transmitir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Dona Onete é cultura do Pará

Expressão maior das lendas do Norte

É cenário, ícone de um povo forte

Que tem sabido bem representar

Ela é revelação do lugar

Em Belém não encontro outra melhor

Quero um dia vê-la cantar forró

Seu Ivan Ferraz olha a dica aí.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Eu gostaria de ser convidado

Com a Dona Onete um dia eu quero

Dançar carimbó, Banguê, Bolero

Envolver-me nesse ritmo joiado

No banzeiro eu quero ser jogado

No chamegado agarrado ou só

Com Iaiá, Sinhá ou com a filó

No carimbó eu vou me exibir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Quem falou pra mim foi um pescador

Que viu a Dona Onete na Areia

Desconfio que seja uma sereia

Na pele de mulher para compor

Traduziu a floresta com amor

Vou depressa largar meu Moxotó

E grudar bem nela no mocotó

Pra jamais de perto dela sair.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Essa flor tem no cabelo outra flor

Esbanjando a sua identidade

No balanço sua sensualidade

É da flor do jambu o tal queimo

 Que provoca no meu Brasil tremor

Dona Onete faz levantar o pó

Dos casais ela tem sido o xodó

Eles brigam, ela consegue unir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Compôs mais de quatrocentas canções

Lá do Norte ela é um dicionário

Ela tem um rico vocabulário

Mostra a região nas composições

Seu domínio inclui as tradições

Ela sabe o passado de có

Misturando faz o borogodó

Tal como tacacá no tucupi.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Acho que Dona Onete encarnou

Todas as lendas dessa região

Sua alma é pura encarnação

Da vida que a floresta brotou

Nesses rios por onde navegou

Se “banhou” a ilha de Marajó

Viu os ribeirinhos pobres de jó

Morando na capital do açaí.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Dona Onete é estrela de Belém

Deve ser tratada de excelência

Só pra ela eu presto continência

Sua resistência vai bem além

No cantar algo diferente tem

A mulher canta mais que um curió

A danada é boa de gogó

De Belém Onete é meu Bem-te-vi

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó

 

 

Quem quiser saber mais de sua vida

Leia o livro “Menina Onete”

Também vá pesquisar na internet

Se houver algo que você duvida

Compre a sua passagem de ida

Vá você ao Pará que é melhor

Perguntar a nossa madre vovó

E de seu conhecer usufruir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Após setenta anos de idade

O Pará parou pra nos revelar

Dona Onete veio pra arrebentar

Ela faz sucesso na boa idade

Com carisma e versatilidade

Sua voz rouca canta o carimbó

Das cantoras existentes é a maior

Eu convido você para ouvir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó.

 

Dona Onete “Flor de lua” é sem páreo

Vida longa a cantora popular

O mundo todo quer prestigiar

Sua vida em um documentário

Um exemplo de viver libertário

Ela hoje prefere viver só

O seu público a tem como xodó

Todos querem de pé lhe aplaudir.

Vinda de Cachoeira do Arari

Para ser a diva do carimbó. 

 

Dona Onete é fruto  camu – camu

É pupunha, bacuri é buriti

Tucumã, tacacá é tipiti

Pepino do mato e cupuaçu

Inajá, Araçá boi e cubiu

Bacuripari, pajurá abricó

É tão bela quanto meu girassol

É Umari, palmeira de açaí.

Nasceu em  Cachoeira do Arari

E tornou-se a diva do carimbó.

 

No Pará de Ary Lobo e Pinduca

Dona Onete veio estrelar na festa

Seu sucesso e brilho ninguém contesta

Das canções temperadas é mestre cuca

Toda a letra que ela canta educa

Faz-nos ver que o Pará é bem maior

Aprender no Chamego é melhor

Ela está ai pra contribuir.

Nasceu em Cachoeira do Arari

E cresceu é diva do carimbó.

 

Obrigado amigo Elielzo

Por me apresentar a Dona Onete

Vi porque o mundo joga confete

Pela sua vida agora eu rezo.

Pela sua amizade também prezo

Minha inspiração, musa vovó

Seu  saber vale mais que ouro em pó

Que os talentos novos devem seguir.

Nasceu em Cachoeira do Arari

Consagrou-se é diva do carimbó.

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